Um Muro no Meio do Caminho (I)
Amina, a rapariga que desenhava sonhos
"Quando um dia se fizer a história deste momento vergonhoso da atitude europeia e da ascensão xenófoba, do acervo fotográfico emergirão as fotografias que retratam estes móveis aleijados que um benemérito considerou à medida de quem não pertence ao mundo dos desejos, mas ao mundo das sobras, ao que restou da devastação. O mundo dos desejos está reservado aos que moram no continente de marca, tanto mais altivo quanto mais se afasta da pobre costa sul. Aos que querem lá entrar exige-se que deixem à porta as ilusões e, se teimarem, ao menos que tomem o lugar de pessoal menor que lhes foi reservado à nascença. As poltronas escavacadas estão muito bem para eles, sentadinhos e à espera do lado de lá do muro onde está pendurado o letreiro Do not disturb!"
in "Um Muro no Meio do Caminho" de Julieta Monginho