Rebeldia, Cristina Carvalho
“Rebeldia”, Cristina Carvalho, 2017
Acabo de ler “Rebeldia” de Cristina Carvalho e penso: quantas Leninhas existem? Quantas vezes não nos sentimos como a Leninha? Até que ponto não nos revemos também na Leninha, por muito que isso nos custe aceitar?
Tirei poucas notas à medida que fui lendo, mas sublinhei e vivi muito este livro. Só conhecia a escrita de Cristina Carvalho de alguns romances biográficos, diferentes deste romance da vida de uma mulher que desde jovem ambiciona outros horizontes que a afastem da vida sem graça da infância e da Pensão Popular dos seus pais. “Sou uma mulher de repentes e de vontades e de cheiros e de apetites, uns dias mais do que outros, é certo, mas sem nunca abandonar estes repentes que, por vezes, fazem com que eu chegue a cambalear de emoções” (pág. 78) diz/escreve a narradora Leninha a certa altura do romance. A felicidade pode estar naquela vista para o rio lá ao fundo, com os reflexos da luz do sol e os barcos a passar, podem ser aqueles olhos azuis, Blue Eyes, mesmo sabendo que são fugazes e mentirosos.
É a história de uma mulher que sonha, mas que acaba por ter uma vida sofrida, de violências e de desamor, feita de tentativas, recaídas, ausências, silêncios, fugas, mentiras, culpas, desculpas. É um livro duro, sobre a violência das amarras de um casamento de que tenta fugir, como que enredada numa teia de aranha.
É um livro sobre a(s) violência(s), difícil de esquecer, de tal modo está bem escrito, com tanta subtileza.
31 de Agosto de 2023
Almerinda Bento