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Lendo e escrevendo

Lendo e escrevendo

Peace Basket

08.04.19, Almerinda

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Este cesto da paz é a peça mais significativa que trouxe do Ruanda.

Comprei-o numa associação que produzia pequenos cestos em sisal, réplicas dos cestos tradicionais - agaseke - usados nas casas do Ruanda para guardar e transportar alimentos e cereais, ou usados em cerimónias. Aquando do genocídio, esses cestos foram abertos, lançados ao chão e destruídos, pois poderiam ser usados como esconderijos para escapar à fúria assassina. 

Passado o genocídio, uma associação pensou que um meio de reconstruir o país e ajudar a aproximar as pessoas, neste caso as mulheres, que eram em muito maior número do que os homens, poderia ser pôr as mulheres dos que tinham sido mortos e dos que tinham matado e estavam presos, lado a lado a tecer estes pequenos cestos e a comunicar entre si, num processo de aproximação, de quebrar as barreiras entre hutus e tutsis e ajudar à reconciliação que era urgente e indispensável. Para além disso, a venda dos cestos da paz seria um meio de ajudar essas mulheres a comprar comida e medicamentos de que necessitavam, tornando-as independentes economicamente. Criaram-se cooperativas de artesãs em todo o país.

Assim, o papel dos cestos tradicionais ruandeses com uma função utilitária evoluiu com estes delicados cestinhos para um instrumento de reconciliação, autonomização das mulheres e suas comunidades e pacificação social. Chamaram-lhes Cestos da Paz. Sendo formados por duas partes - a base e a tampa - a ideia é que eles guardem todos os sonhos de paz que as mulheres têm e por isso não deverão ser abertos para que esses sonhos não fujam, não se percam! O padrão em zigzag representa duas mulheres de mãos dadas, significando a reconciliação, a unidade e a esperança num futuro de paz para o Ruanda. Em 2013 havia mais de quatro mil e quinhentas artesãs a fazer estes cestos da paz cuja venda para o estrangeiro estava a permitir a sobrevivência de comunidades em todo o território ruandês.

Estes cestinhos são um maravilhoso símbolo da capacidade de perdoar, da generosidade e compaixão  que as mulheres ruandesas mostraram ao mundo, encontrando formas simples de ultrapassar um momento terrível da sua história recente.

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