O Baile, Irène Némirovsky
“O Baile” – Irène Némirovsky, 1930
É um livro que se lê dum fôlego. Nunca tinha lido nada desta autora. Procurei “As Moscas de Outono” na Biblioteca Municipal a que estou ligada, por ser o livro que escolhemos este mês para o Leia Mulheres Lisboa e acabei por trazer “O Baile”, o único de Irène Némirovsky que a biblioteca municipal tinha.
Ao lê-lo, lembrei-me de Stefan Zweig e de “O Morto” de James Joyce em «Dubliners», talvez mais pelas personagens e pelos ambientes, do que propriamente pela história. Trata-se de um livro invulgar, perturbador, muito bem escrito e que fica a remoer, sobretudo pelo insólito.
Tudo se desenrola em torno de um casal de novos-ricos e da filha adolescente. Digamos que nenhum deles está de bem com a vida. Eles – os Kampf – porque querem ostentar um estatuto que não têm, mesmo que o dinheiro lhes sobre. O teste do algodão não engana; são inseguros, falsos, medíocres. Antoinette, a filha com catorze anos já não é uma criança, aspira a ser desejada porque já se sente uma mulher; a mãe, no entanto, trata-a como uma criança e tem uma relação conflituosa com a filha, não conseguindo compreender a filha nem estabelecer com ela uma relação minimamente empática nem maternal. Antoinette sente que ninguém a ama, é profundamente infeliz, sente-se “miserável e só como um cão perdido” (pág. 32). Por outro lado, acha os pais hipócritas. É em torno deste mal viver que se desenrola este pequeno conto que tem um desenlace insólito.
Perfídia? Intencionalidade? Vingança? Penso que sim. O desespero, a solidão e o desamor podem detonar reacções descontroladas protagonizadas por jovens. Temos assistido a isso, aqui e ali no mundo.
5 de Junho de 2025