Nocturnos, Kazuo Ishiguro
“Nocturnos – Cinco Histórias sobre Música e o Cair da Noite”, Kazuo Ishiguro, 2009
“Nocturnos” é um conjunto de cinco pequenos contos, que têm a música como elemento comum. Veneza, Londres ou as belas colinas de Worcestershire são o cenário para histórias de amores em crise, de carreiras frustradas, de sonhos não concretizados. Histórias aparentemente simples, mas que dão que pensar como geralmente acontece com os contos.
A primeira história tem como título “Crooner”, ou seja, alguém que fala ou canta canções de amor num tom mavioso, lembrando o estilo das canções de Sinatra. Passa-se em Veneza, na Veneza dos turistas, tão diferente daquela silenciosa, parada e de canais novamente despoluídos e sem gôndolas que vemos em vídeos que foram feitos desde que a pandemia assolou a região de Bergamo e do norte de Itália. Uma história de recordação de uma lua-de-mel e de fim de uma relação de vinte e sete anos entre um crooner e a mulher por quem se apaixonou. A ditadura da idade para os famosos do show business e para quem aceita viver sob essa regra. O narrador, guitarrista numa orquestra que toca para turistas na Piazza San Marco, é contratado para uma estranha serenata de despedida.
O tema das preferências musicais da juventude que ligam as pessoas para a vida, mesmo que os anos e novas músicas tenham interrompido essa ligação é o assunto de “Faça Chuva ou Faça Sol”, passado em Londres. Ouvir uma versão há muito esquecida de “April in Paris” por Sarah Vaugham com o trompete de Clifford Brown poderá ser o momento de apaziguamento e reencontro quando o desencontro existe. Neste segundo conto, o narrador professor de Inglês em Espanha, vai a Londres em visita a um casal de amigos que, ao contrário do que esperava, se encontram num processo difícil a viver uma relação conflituosa.
Em “Nocturno”, o narrador é um saxofonista em crise, que sonha liderar uma banda e é pressionado a submeter-se a uma cirurgia estética que o ajude a conseguir ser apreciado pelo público, tantas vezes valorizando mais a imagem do que a arte musical. Será que essa mudança poderá ser um ponto de viragem na sua carreira? Um novo começo?
A casa da irmã e do cunhado em “Malvern Hills” é o refúgio de Verão de um jovem músico que não consegue encontrar uma banda para tocar em Londres. É também a oportunidade de poder compor novos temas, no intervalo do trabalho no café de que a irmã e o cunhado são proprietários, os quais desvalorizam a música e a composição que não consideram verdadeiramente trabalho.
Em “Os Violoncelistas” o narrador recorda bandas com quem trabalhou em que os seus membros eram como uma família, mas que ao desfazerem-se passaram a ser estranhos. Reencontra anos mais tarde um violoncelista que conhecera. Este Tibor nada tem a ver com o Tibor simpático e simples que conhecera sete anos antes.
Este é o segundo livro que leio de Kazuo Ishiguro. Interessante. No entanto, longe de me satisfazer como o inesquecível “Os Despojos do Dia”.
10 de Maio de 2020
Almerinda Bento