Frida é resistência
Hoje escolhi Frida para festejar os 6 anos deste blogue, que resiste, pese embora os dias de hoje não serem para leituras demoradas, nem para blogues.
Esta linda Frida foi-me oferecida pela minha prima Zita, que sabe do meu amor por Frida Kahlo. Tenho a imagem de Frida Kahlo em inúmeros objectos e imagens por toda a casa. Há uns anos, quando li "Diego & Frida" que comprei numa Feira do Livro de Lisboa, entrei pela primeira vez naquele universo único de uma mulher apaixonada, lutadora, sofredora e icónica. E nunca mais parei de ver filmes, peças de teatro, ler livros e ver exposições sobre ela. Costumo dizer que só me falta ir à Cidade do México para visitar a casa onde ela viveu, amou e pintou.
Para mim, Frida é sinónimo de resistência. Ao longo de várias décadas, foi isso o que ela fez de forma exemplar, desde aquela fatídica tarde de 17 de Setembro de 1925, quando se deslocava com Alejandro de autocarro e este foi abalroado por um comboio.
Alejandro estava lívido, os braços e pernas tremiam-lhe violentamente. Em mangas de camisa, sozinho no meio dos gritos, dos destroços, da confuão, do vaivém de macas carregando os feridos, e talvez mortos, paralisado num segundo tempo pelo horror do espectáculo, não conseguia senão dizer para si: «Ela vai morrer... Ela vai morrer...».
No hospital da Cruz Vermelha, Frida foi transportada imediatamente para a sala de operações. Os médicos hesitavam em actuar, pois não alimentavam ilusóes: ela morreria sem dúvida durante a operação. O seu estado era absolutamente desesperado. Era preciso avisar a família sem demora.
«Matilde soube a notícia pelos jornais e foi a primeira a chegar. Não se separou de mim durante três meses, dia e noite a meu lado. O choque tornou minha mãe muda durante um mês, e não veio ver-me. Ao ter conhecimento da notícia, a minha irmâ Adriana desmaiou. O meu pai teve um desgosto tão grande que adoeceu e só pude vê-lo vinte dias mais tarde.» (págs. 91 e 92)
in "Frida Kahlo - Uma Vida", Rauda Jamis
Quando Matilde quis saber do estado da irmã, o médico disse-lhe que, considerando a quantidade de ferimentos que ela tinha, a sua sobrevivência seria um milagre. Ele estava bastante pessimisrta. Faziam o que era possível, mas não podia fazer conjectutras. Só um mês depois do acidente a equipa médica fez o primeiro diagnóstico sério sobre a situação de Frida, sendo-lhe prescrito o uso de um colete de gesso durante nove meses e repouso absoluto na cama durante pelo menos os dois meses seguintes à sua estada no hospital.
Resistir é o que se pede nestes tempos tão perigosos em que parece que o mundo deu uma cambalhota e enlouqueceu. Os senhores do mundo decidem sobre as vidas dos povos como se estivessem a jogar ao Monopólio. A aberração é tal que a sensação é a de se estar a viver uma distopia.
Resistir pois, o mais possível e acreditar que ainda há forças progressistas e democráticas para fazer virar os pratos da balança.
19 de Fevereiro de 2025