Dublin - 4
Dublin – 4
Estamos a meio da nossa estada em Dublin e, para evitar as filas intermináveis, logo pela manhã lá estávamos à porta da Guiness Storehouse e a postar-nos debaixo do logo e do símbolo da Guiness para uma fotografia. Os turistas são tão previsíveis! Vale bem o valor do bilhete. Aqui é tudo muito caro. O edifício é uma estrutura espectacular de vários andares até ao andar panorâmico onde nos é fornecida uma Guiness tirada a preceito, para desfrutar da bebida e da vista da cidade de Dublin. Aquilo é um colosso de fazer dinheiro, com milhares de visitantes, diariamente.
A Guiness é uma instituição nacional que tem patrocinado com os seus lucros obras de recuperação de monumentos e também tem feito avultados donativos sociais. A visita detalhada, sensorial, é de um enorme interesse na apreensão de todo o processo que conduz à produção duma cerveja única. À saída fomos brindados com uma forte chuvada que nos obrigou a apanhar um táxi. Hoje é o dia do álcool e o caminho a seguir será a Jameson Distillery que fica na margem norte.
Como sempre, pus-me à conversa com o motorista, um irlandês super simpático: Paul Walsh, dois filhos, duas netas, diz-me ele e mostra-me a fotografia das duas meninas no écrã do telemóvel, enquanto lhes dá um beijo. O filho mais velho é o pai das meninas e o mais novo é casado com uma portuguesa de Cabanas (Tavira). Todos vivem em Dublin. O Sr. Walsh era tão comunicativo e tão completo que quando me despedi ele disse “Obrigado”, mas se fosse uma senhora seria “Obrigada”. Espectacular! Nem todos os portugueses sabem e praticam isto.
Depois do almoço num italiano dirigimo-nos à Jameson e, tal como na Teeling com ingressos a 30€, acabámos por ficar apenas no bar no rés-do-chão para desfrutar do espaço e de um Irish Coffee. Copo aquecido com água a ferver, syrup, um cálice de whiskey, café e, por fim, natas. Quando fui buscar o pauzinho para mexer, o empregado muito sério disse: “Isso não se faz ao Irish Coffee!”
Em todos os dias há um contratempo e hoje foi Henrietta Street que queria muito visitar. Depois das peripécias para lá chegar, quando finalmente encontrámos o 14 Henrietta Street, tinha fechado há dez minutos e, como fecha às segundas e terças, só poderei lá entrar numa outra vez… Mas nem tudo se perdeu, porque descemos essa mesma rua e descobrimos um mural junto a um bar que James Joyce gostava de frequentar para escrever e para beber, claro.
Confesso que no regresso ao hotel ia um pouco frustrada. O taxista que nos levou era um jovem afegão a viver há dez anos em Dublin. Quando lhe comecei a fazer algumas perguntas (se calhar fui pouco inteligente), senti por parte dele alguma desconfiança e até estranheza. Como ele me disse, a mulher dele dispõe de todo o dinheiro que quiser para comprar o que bem entender e o que acontece é que as pessoas estão muito cheias de propaganda americana… mas ele até gosta de viver na Irlanda, vai com frequência ao Afeganistão e confessou que, na verdade, ganha num mês na Irlanda o que não conseguiria ganhar num ano no Afeganistão.
Para terminar o dia fomos ao Brazen Head, o bar mais antigo da Irlanda. Comi uma sopa de tomate bastante picante, os meus companheiros comeram umas asas de frango com um molho com sabor a laranja que não os deixou nada maravilhados e ainda aguardámos pacientemente belo grupo que deveria começar a actuar às 8h 30m, mas depois percebemos que só seria depois das 10h e limitámo-nos a vê-los começar a montar o estaminé… Mas uma ida a um pub irlandês vale pelo sítio, pelo aconchego das madeiras escuras, dos milhares de garrafas e de copos, do ambiente que ali se respira.
O cansaço já era muito, mas o dia, apesar dos percalços, foi um belo domingo com um nada de chuva e o desencontro com uma casa/museu que foi um dia uma casa de gente muito abastada e que com o tempo passou a ser um local onde se amontoavam famílias pobres que tinham de sobreviver em condições muito difíceis.
(continua)