Desaprender o óbvio
"A «ideologia naturalista», explica Clément Rosset no seu L'anti-nature , passa pela aceitação de que existem princípios inegáveis, inquestionáveis e necessários que sustentam toda e qualquer interpretação do mundo dependente da ideia de «natureza». Os enunciados sobre as mulheres encontram, por isso, um «ponto de apoio» que exclui por definição a dúvida, pois convoca uma «natureza feminina»: as opiniões sobre as mulheres são tão mais imunes à contestação quanto mais apelam para a presença implícita de uma «essência», negativa ou positiva. Vendo-as como sendo naturalmente «inocentes» ou «corruptoras», «angelicais» ou «diabólicas»., «lúbricas» ou «castas», entre tantos outros pares de conceitos opostos , o que sempre se supõe de todas estas vezes é a existência de um «eterno feminino». As mulheres individuais seriam apenas declinações contingentes desta instância transcendente."
in «Fêmea uma história ilustrada das mulheres» de Inês Brasão e Ana Biscaia, 2019