A senhora da fotografia
A senhora da fotografia
Hoje, ao olhar para a primeira página do Público, percebi que estava naquela fotografia a minha Notícia do Dia para o SPGL. Era óbvio. A guerra e os seus efeitos na vida das mulheres. É o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres. Em muitos sítios, muitas empresas e instituições lembram-se de oferecer neste dia gerberas e outras flores às mulheres, para lhes dizer que pensam nelas, que gostam muito delas, que as respeitam… bla, bla, bla. Sempre achei hipócrita esse gesto, mas isso é porque tenho mau feitio… Mas voltando à fotografia da capa do jornal Público, um soldado apoia e agarra pela mão uma senhora idosa que caminha sobre uma prancha de madeira. Mais atrás crianças, mulheres e homens fazem fila e aguardam a sua vez de o fazer. A senhora idosa olha o soldado nos olhos e certamente agradece-lhe, não só pelo seu gesto, mas porque é um dos muitos milhares de homens que estão no terreno a suster o avanço das tropas russas e a defender a sua terra.
Na guerra, são as mulheres, as crianças, as pessoas idosas e os mais vulneráveis quem sofre de forma mais aguda os efeitos e as consequências da barbárie. As desigualdades aumentam, a violência de género chega a níveis inauditos pois muitas vezes os corpos das mulheres são despojos de guerra, a pobreza torna-se endémica, as crianças deixam de ter acesso à escola, tudo fica suspenso ou paralisado. Os direitos ficam em stand by quando não retrocedem e isso para as mulheres, na sociedade patriarcal em que vivemos é dramático.
Mas avanço no jornal. Folheio-o à procura de mais notícias neste dia em que as Mulheres são fonte de notícias, comentários, análises, estudos, estatísticas. Voilà! página 16 – Política – “Legislativas de 30 de Janeiro elegeram menos mulheres”. A jornalista Marta Roque escreve dois artigos: “Secretária de Estado da Igualdade defende «regras explícitas» na lei da paridade” e “Pandemia atrasou em 30 anos o progresso das mulheres na paridade”. Encaixado entre os dois artigos, lá aparece a fotografia do presidente e a referência à sua mensagem neste dia, numa coluna com o título “Marcelo: balanços nos direitos das mulheres ainda «insuficientes»”.
Agradeço à senhora da fotografia ter-me ajudado a escrever o que queria neste Dia Internacional das Mulheres. Uma fotografia muitas vezes vale muito mais do que cem palavras. Daqui a um ano como estaremos? Tivemos uma pandemia que ainda não se foi embora, entrámos numa guerra que não sabemos quando nem como vai terminar… As mulheres pioraram nas suas vidas com a pandemia e tudo isso se vai agravar com a guerra. Por isso elas querem e pedem Paz. Paz! Tão simples, mas tão difícil.
8 de Março de 2022
Almerinda Bento
Nota: Quinzenalmente, faço um pequeno artigo para o meu sindicato, o SPGL, sobre uma notícia do dia, a partir de um jornal à escolha. Hoje foi isto.