A Poesia está de luto
Hoje de manhã fui confrontada com uma notícia que era expectável, mas que nunca queremos ouvir.
"A Desobediente faleceu". Foi essa a mensagem que o meu filho me enviou, estava eu em Lisboa e ainda no começo de uma série de coisas que tinha de fazer. Foi um choque. Uma tristeza.
Não tinha previsto entrar em nenhuma livraria, não fosse ser tentada, mas não resisti, já que estava em Alvalade e poderia encontar a Marta na Bertrand. Mas a Marta não estava e um dos primeiros livros que me chamou a atenção foi o livro da Adília Lopes. O livro chamou-me e foi esse que levei. O jovem que me atendeu quando lhe estendi "Pardais" questionou-me: - Não quer levar nenhum de Maria Teresa Horta? - A Desobediente! - respondi-lhe. Hoje não. Hoje levo a Adília Lopes. Ainda deu para falarmos da maravilhosa biografia de Maria Teresa Horta feita por Patrícia Reis e lá segui para outro destino.
"Nous n'avons plus d'argent pour enterrer nos morts.
Le prêtre est là, marquant le prix des funérailles;
Et les corps étendus, troués par les mitrailles,
Attendent un linceul, une croix, un remords."
Esta é a epígrafe que Adília Lopes escolheu da autoria de Marceline Desbordes-Valmore para abrir o seu livro de poemas com o título "Pardais". Folheio o livro e sorrio com alguns dos seus poemas, pequenos, mas que sabem tão bem neste dia soalheiro e frio de Fevereiro. Para cortar a tristeza desta(s) morte(s).
"Sem liberdade não há felicidade." (p. 20)
"Sem democracia não há alegria." (p. 21)
"Vale a pena escrever poemas." (encimado pelo poema de Fernando Pessoa "Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena) (p. 24)
"É preciso pensar no dia de amanhã alegremente."(p. 25)
"Não empolar. Não escarafunchar." (p. 26)
"Na montra de um café de Lisboa está escrito: A Vida é Super. Também acho." (p. 27)
Já hoje escrevi um pequeno texto de homenagem a Maria Teresa Horta. Poucas e pobres palavras para uma Mulher tão grande, para uma mulher cuja escrita e vida foram importantes para mim como feminista. Para uma Mulher que nunca foi consensual, que nunca vogou nas águas do senso comum, para uma Mulher que rompeu barreiras quando isso era tão difícil e que pagou pela sua desobediência e pela sua insubmissão. Uma Mulher que foi e é uma inspiração.
Hoje é dia de ler Poesia. O futuro está aí para descobrir e divulgar poesia, as e os poetas.
Acreditar que a Poesia, a Literatura, a Cultura nos salvam.
4 de Fevereiro de 2025