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Lendo e escrevendo

Lendo e escrevendo

À descoberta dos Açores (II)

23.05.23, Almerinda

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O quarto dia para descobrir a ilha do Pico foi maravilhoso. Tinha a ideia de que devia ser uma ilha pequena, redonda, dominada pelo vulcão e, afinal, é a segunda ilha maior depois de S. Miguel. Chamam-lhe a ilha cinzenta, certamente devido à predominância do basalto. Começámos pela vinha típica desta ilha, classificada património mundial da UNESCO, plantada em currais com 3 a 4 pés de vinha, passando por um moinho de vento típico, de origem flamenga, pintado de vermelho, a cor do dragoeiro muito usado nas casas e nos portões das vinhas. O que mais me impressionou nesta ilha é a força e tenacidade do trabalho árduo dos habitantes que ao longo de séculos conseguiram sobreviver num território de basalto, trazendo terra do Faial em troca da vinha que produziam. Andámos sempre ao longo da ilha no sopé do vulcão, vimos piscinas naturais, entrámos na igreja de S. Mateus, passámos pelo monumento ao pastor e entrámos numa casa de artesanato também conhecida pelas rendas e bordados tradicionais, sendo alguns dos trabalhos de Joana Vasconcelos encomendados às artesãs locais. Tal como no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, fiquei impressionada com o Museu dos Baleeiros que fica nas Lajes do Pico. A caça à baleia que deixou de ser autorizada em meados dos anos 80, em resultado da adesão de Portugal à CEE/UE foi-nos mostrada num vídeo, logo no início da visita. Actividade duríssima e muito perigosa, teve rostos de muitos homens que nos surgem em determinada altura nas paredes do museu. Impressionante também a beleza da arte de scrimshaw gravada nos gigantescos ossos das baleias. Este museu tem ainda uma simpática biblioteca e vários exemplares de artefactos da vida rural e marítima dos habitantes da ilha do Pico. Seguimos para norte em direcção à Lagoa do Capitão onde as vacas bem nutridas se passeavam livremente e mais pareciam saídas de uma tablete de chocolate Milka. Até patos acasalando vimos naquela magnífica lagoa. A parte final da viagem pelo Pico antes do jantar foi ao longo da costa norte, com paragem no Cachorro, onde deparámos com um gato amarelo espojado no chão para lhe fazermos festas. Aquela zona é linda e aí vi pela primeira vez já algumas hortênsias bem grandes e de várias cores. Ainda se fez uma paragem para uma prova de licores e aguardentes do Pico. Já tenho prenda para o Vítor! Por sugestão da minha amiga Joana que tem casa em Santa Luzia, fizemos uma ida ao Cella Bar, aquele que dizem ser o mais bonito bar da Europa. Com paredes de madeira, tem uma forma que quase nos faz sentir estarmos dentro de uma baleia. Depois do Pico nunca mais ficamos iguais. A nossa guia Eveline, mulher do Pico, emigrante durante vários anos, é bem o símbolo do povo valente que moldou o basalto e a natureza para conseguir viver na ilha. Ao longo do dia, ilustrou muito do que vimos com referências às suas experiências pessoais enquanto criança e jovem. Uma mulher de grande fibra.

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Despedi-me já com saudades do Pico, mas agora segue-se a ilha das Flores e para chegar lá, tivemos de fazer uma escala de muitas horas no aeroporto da Terceira. A maior parte dos e das viajantes meteram-se a caminho, saindo do aeroporto para uma curta volta pela Terceira. 

O hotel Ocidental onde ficámos nas Flores fica muito próximo do aeroporto. Embora nem sempre seja possível ver o Corvo a partir das Flores, a verdade é que conseguimos avistá-lo de avião, quando nos aproximámos para aterrar em Santa Cruz das Flores. A vista do meu quarto, logo pela manhã, com o sol espelhado sobre o mar, é incrível.

“Meus Amores!” é assim que a Carla, a nossa guia permanente ao longo de toda a viagem, se nos dirige, sempre que nos quer fazer um aviso ou dar uma recomendação. A partir de agora, vamos passar a ouvir: “Minha gente!”, mas com sotaque da Terceira. O Francisco, nosso guia nas Flores e no Corvo é florentino, mas, como ele me disse, passou muito tempo na Terceira. É super bem-disposto, brincalhão, enérgico e excelente profissional, o que vai transparecer nos dias em que vamos estar nas Flores e no Corvo. A ilha das Flores que recebeu esse nome devido às muitas flores que a cobrem, nomeadamente as cubres de cor amarela, flor endémica da ilha, é, no entanto, chamada de ilha rosa devido às azáleas que vimos junto à estrada. Nesta altura, encontrámos ao longo da estrada muitos bafos de boi, de cor amarela, mas o verde, os verdes são dominantes: fetos, araucárias, criptomérias ou cedro japonês, a floresta laurissilva que já tínhamos visto na Madeira… É verdade que não conseguimos ver as lagoas, porque o nevoeiro era intenso, mas mesmo com aquela névoa a ilha é extraordinária. Os miradouros da Ponta Ruiva e de Ponta Delgada com vistas para as respectivas fajãs foram motivo para inúmeras fotografias. Encontrámos um cãozinho preto que só queria mimos e uma senhora que vivia sozinha a tratar da horta. No almoço na Fajã Grande tivemos a grande surpresa gastronómica. Fartos de ouvir que o arroz doce é muito popular nas ilhas, a verdade é que até àquela altura tínhamos sempre tido salada de frutas por sobremesa e eis senão quando, ao esperarmos por mais uma taça de salada de frutas nos apareceu uma tacinha de arroz doce. Foi uma festa! Seguimos até à ponta de onde se avista o ilhéu de Monchique, a parte mais ocidental da Europa e na Ponta da Fajã deslumbrámo-nos com a cascata do Poço do Bacalhau. De seguida, a partir do Miradouro do Portal avistámos a Fajãzinha, motivo, quem sabe mais tarde, para uma aguarela… Na vila das Lajes das Flores entrámos na igreja de Nossa Senhora do Rosário. No exterior, um monumento de homenagem aos jovens da ilha das Flores que morreram na guerra colonial. A repetição de vários apelidos certamente significa a triste perda de vidas de pessoas da mesma família.

 

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