À descoberta dos Açores (I)
“De qual das ilhas gostaste mais?” é uma pergunta clássica quando se vem dos Açores e quase tão clássica como “dos livros que leste este ano, qual o melhor?” Geralmente ou não se responde, ou as adversativas interpõem-se e tornam a resposta uma amálgama vaga e imprecisa.
É impossível hierarquizar, porque é tudo muito belo, diverso e esmagador. E tal como nos livros, há aquela passagem, ou aquela personagem especiais que ficam na memória e que tornam o livro inesquecível. Eu já tinha feito uma viagem a S. Miguel, num fim-de-semana de vendaval com uma borrasca centrada em Povoação que transformou as ruas de Ponta Delgada em rios, que deitou ao chão as figuras do presépio nas Furnas, que barrou com troncos de árvores as estradas e não deixou visitar as famosas lagoas, mas que ainda me deixou ir a Rabo de Peixe. E alguns anos mais tarde, num 8 de Março, fui à Terceira, a ilha esmeralda, que corri ao longo de toda a costa num carro conduzido por uma açoriana “fitipaldi” e cuja impressão final foi de espanto pela beleza da ilha, pelos “impérios”, pelos Biscoitos e pelo melhor peixe que já comi na minha vida.
Desta vez, foram 5 ilhas em 7 dias. Uma verdadeira loucura, “um aperitivo” para mais tarde voltar com mais vagar, como disse a Alda, a mentora e organizadora destes dias inesquecíveis.
Começámos pelo Faial, aquela a que chamam a ilha azul porque nesta ilha as hortênsias, que neste momento ainda não estão floridas, têm uma cor azul intensa. Ficámos hospedados no hotel Horta, não muito longe do porto e do nosso quarto avista-se o Pico. Logo que se chega ao aeroporto, o Pico impõe-se-nos de imediato e iremos habituar-nos que é sempre diferente, visto as nuvens que o rodeiam constantemente mudarem de posição cobrindo-o ou não parcialmente, experiência semelhante à que tive em 2013 a partir do meu quarto com vista para o monte Gilé em Moçambique. E porque valia a pena aproveitar o resto do dia, fomos a pé do hotel até à marina da Horta para ver a parede com as inúmeras pinturas dos velejadores que chegam e de seguida entrámos no café Sport, conhecido como Peter´s, completamente cheio e sem nenhuma mesa livre. Para além do famoso gin que aí é servido, fui à loja contígua onde descobri uma pérola que foi a cereja no cimo desta viagem pelas ilhas: o livro de Nuno Costa Santos “Como um Marinheiro eu partirei – uma viagem com Jacques Brel”, cuja leitura terminei já nas Flores, no dia 15 de Maio. Ainda passámos por um jardim com dragoeiros seculares e árvores muito altas. A guia desta ilha recordou-nos que o primeiro presidente da República, Manuel de Arriaga Brum da Silveira, era natural da cidade da Horta.
O dia seguinte foi para explorar a ilha. O tempo esteve sempre excelente e permitiu-nos ter uma belíssima visibilidade para desfrutar do verde, do azul do mar, da visão do Pico, da Caldeira no centro da ilha vulcânica, das piscinas naturais do Varadouro e também da encosta cinzenta à medida que nos aproximamos da ponta dos Capelinhos, o tal vulcão que esteve activo durante treze meses, começando a sua actividade em 1957 e terminando em 1958. Foi muito interessante e competente a visita no Centro Interpretativo do Vulcão dos Capelinhos. Mais de metade da população foi então obrigada a emigrar, tendo até alguns habitantes de outras ilhas aproveitado a facilidade dada aos faialenses para tentar melhorar a sua situação, sobretudo em terras norte americanas. Como iria sentir nas restantes ilhas, há uma calma imensa, tudo está muito limpo, vêem-se poucas pessoas nas ruas e raramente se viam crianças. A nossa guia no Faial – Ilídia – explicou que as crianças estavam nas escolas, corroborando a minha opinião do tempo excessivo que as crianças portuguesas passam dentro das escolas. Vaquinhas sim, isso aos montes. Aliás, parece que há 3 vacas por habitante. Ao final do dia, depois de termos ido ao mercado da Horta para comprar uns souvenirs e umas bananinhas, que ainda precisam de amadurecer, deparei-me com um cartaz do Bloco. Seguimos já com as malas na camioneta para o cais da Horta para seguir de barco para a Madalena no Pico, onde ficámos no hotel Caravelas.
O Pico ficou pois como o poiso seguinte, mas na manhã do terceiro dia da viagem metemo-nos no barco a caminho de S. Jorge, a ilha das fajãs, ou ilha castanha, de que tanto me fala a Elisabete. O que eu menos gostei neste dia foram as viagens de barco, sobretudo a de regresso ao Pico ao fim do dia, que me pareceu interminável. Quando se olha para o mapa, parece que a distância entre a Madalena e as Velas é pequena, mas a verdade é que pelo menos uma hora e meia foi o que levámos a fazer em cada uma das viagens. A manhã foi praticamente passada numa queijaria que faz os famosos queijos de 12 quilos de S. Jorge, produto obrigatório nas compras dos turistas aficionados pelo saboroso queijo. As encostas cobertas de vegetação da ilha, as pastagens com as vaquinhas, as falésias e arribas são deveras surpreendentes e as vistas para as fajãs inesquecíveis. Ricardo, o guia em S. Jorge, era um rapaz muito prestável e simpático, mas de todos os guias desta viagem, o menos experiente. Daí que eu própria tenha aproveitado menos de S. Jorge comparativamente com as restantes ilhas. Velas, Urzelina, fajã do Ouvidor, fajã dos Cubres foram algumas a que se consegue aceder através de estradas secundárias em que por vezes só passa um carro de cada vez. Terminámos o dia no parque natural das Sete Fontes, onde tive a oportunidade de ver uma família de treze patos a correr atrás da mãe pata, galos, ouvir as aves e o coaxar das rãs que nunca se deixaram ver. Depois de ver as fotografias feitas pela Isabel, percebi que apenas percorri uma parte deste parque natural e que muito ficou por descobrir. Talvez por me sentir cansada e cheia do almoço, ao jantar fiquei-me por um chá. Depois foi a viagem de barco de regresso ao Pico.