71 anos
71 anos
Não sei o que o meu smartphone me vai dizer amanhã quanto tempo a mais estive ligada a ele. Mal me levantei, a indicação de que havia mensagens no facebook, no sms e no whatsapp “obrigou-me” a abri-las antes de tomar o pequeno-almoço. São rotinas a que já não escapamos.
Tinha levado a “Visão” da semana passada para a cozinha porque queria ler a entrevista do Sérgio Godinho a propósito dos 50 anos de “Os Sobreviventes” e as “Novíssimas Cartas Portuguesas”, 50 anos depois da publicação do livro das 3 Marias que a censura proibiu por considerar “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”. Em dia de aniversário, merecia começar bem o dia e bem acompanhada ao pequeno-almoço, já que o isolamento me tem estado a obrigar a ficar em casa... É verdade que nestes dias, acordo sempre triste porque já não tenho cá a mãe que às 8h 30m em ponto me ligava para me lembrar que tinha sido naquele hora que eu decidira sair para o mundo; porque já não tenho cá o pai e o seu sorriso doce a dar-me os parabéns; porque já não tenho cá a querida Bel que dava sempre aos outros mais do que aquilo que recebia. É impossível nestes dias de comemoração não lembrar as nossas festas em que estávamos todos juntos e sentir essa perda que só é colmatada com as recordações felizes.
Impressiona-me pensar que já passaram 71 anos. Um tempo que me permitiu fazer muitas amizades, viver muitas vidas, muitas experiências, elaborar pensamento e acção, descobrir tantas coisas e perceber que há tanto por conhecer e fazer. Neste dia em que agradeci tantas felicitações senti-me privilegiada e orgulhosa pela pessoa que sou.
Mais uma vez vou escrever a frase que mais escrevi e disse no dia de hoje: muito obrigada.
28 de Abril de 2022
Aguarela da minha amiga Eisabete Trinta