Maratona de Leitura
"Manual de Pintura e Caligrafia", José Saramago, 1977
Ontem foi maratona de leitura. Uma experiência única, inesquecível. 9 horas a ler, sem pausas, dezenas de leitores e leitoras quiseram assim celebrar o 17º aniversário da Fundação José Saramago com a leitura do segundo romance deste autor.
Em tempos emprestei este livro, que nunca tinha lido. Ontem, as horas foram passando e as cerca de trezentas páginas foram partilhadas, lidas, ouvidas. Diferentes sotaques de um mesmo livro: português de Portugal, do Brasil, de África e também castelhano. E também emoção e lágrimas inesperadas. Inesquecível.
Tanto que aquele Manual nos trouxe. H. Pintor insatisfeito, que se ajusta ao cliente que lhe paga. Escrever como alternativa à pintura, ou enquanto se espera por nova encomenda. Os amigos e as normas que se estabelecem entre eles. As experiências por Itália e a vontade de as registar em forma de narrativa de viagem, ou será antes uma autobiografia? As paredes grafittadas em Itália como forma de resistência. O fascismo cá e lá e também em Espanha e na Grécia. A sensação de medo quando pela primeira vez, ainda muito novo, é apanhado pela polícia com uns papéis nas mãos. Itália, Veneza, a Capela Sistina e já então a praga dos turistas. Portugal, a guerra colonial, o Verão de 73 e a sensação de que "alguma coisa se aproxima". O 25 de Abril e as portas de Caxias que se abrem.
Amores, amor. Insatisfação, rebeldia. Escrever (uma carta) pode ser a forma cobarde de não dizer pessoalmente... Escrever pode ser a forma de pensar com tempo.
Tantas notas que retive de um livro, à medida que o fui ouvindo. Tantas e tantas reflexões que a escrita de Saramago sempre nos traz.
Não podia deixar acabar o mês de Junho sem aqui vir deixar esta minha curtíssima nota sobre um dia completamente diferente que vivi e que não irei esquecer.
29 de Junho de 2024
17º aniversário da Fundação José Saramago