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Lendo e escrevendo

Lendo e escrevendo

Mensagens revolucionárias

29.01.21, Almerinda

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Há 9 anos postei esta imagem no meu facebook. O que me levou a tal? Eram os tempos da troika e o mal-estar era geral. O povo estava a ser mal tratado, o primeiro-ministro dizia que tínhamos andado a viver acima das possibilidades, que tínhamos sido laxistas, as carreiras estavam congeladas, tiravam-nos dias feriados, obrigavam os nossos filhos e filhas a emigrar depois de terem feito a sua formação cá mas sem conseguirem arranjar trabalho… Eram tantos os motivos para andar acabrunhados, eram tantos os motivos para lutar, com as armas que tínhamos na mão… A alegria era talvez uma e bem difícil quando o sentimento de depressão era imenso. Parece tão fácil de dizer: ALEGRIA. Mas para a conseguir é preciso estar na disposição e ser capaz. Hoje senti que esta mensagem numa parede, algures num país da América Latina ou aqui ao lado, que possivelmente já desapareceu ou foi apagada ou mal se consegue ler, é duma força extraordinária. É verdadeiramente uma mensagem revolucionária. Ser capaz de experimentar alegria, agora que estamos a viver uma pandemia que nos sufoca e mata é mesmo muito poderoso e revolucionário. Escrevo estas palavras, quando ainda há bem pouco tempo num artigo que escrevi para o Escola Informação do SPGL, sublinhava a palavra Esperança. Haja confiança. Haja Esperança. Haja Alegria. Façamos cada um/a a nossa obrigação. Ficar em casa. Cuidar da saúde de todos/as nós. Respeitar quem no SNS está a viver o impensável.

Bela, Ana Cristina Silva

28.01.21, Almerinda

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“Bela”, Ana Cristina Silva, 2020

“Bela” é um romance denso em torno da vida e da personagem de Florbela Espanca. Iniciando-se com o suicídio da poeta no exacto dia em que faria 36 anos, percorre toda a vida desta mulher desde o dia 8 de Dezembro de 1894 quando nasce até ao derradeiro dia em que escolheu pôr fim ao seu sofrimento. O romance está dividido em capítulos em que um narrador analisa os sentimentos e estados de alma de Bela e “Interlúdios” em que Bela é ela própria a narradora que se desvenda ao/a leitor/a expondo a sua vida de menina, mulher, apaixonada, infeliz, insatisfeita, sempre em fuga e somente realizada através das quimeras da sua poesia magoada e apaixonada. Infeliz, talvez desde que teve consciência de si, por o pai, o seu primeiro amor, nunca a ter reconhecido como filha. Infeliz, pela frieza rancorosa da madrinha, uma figura dúplice que nunca a tratou como filha. Infeliz, porque todos os homens com quem casou não conseguiram preencher a sua sede de ser desejada, amada e respeitada na sua liberdade. A morte de Apeles, seu amado irmão, foi a queda no desespero e a certeza de que a vida já não tinha sentido para ela.

Numa sociedade preconceituosa, de aparências, em que os papéis masculinos e femininos estavam perfeitamente definidos, a domesticidade a que a queriam moldar, não encaixava na personalidade de Bela. O ferrete de ter nascido de uma relação extra-conjugal, de se ter divorciado duas vezes e iniciado novos relacionamentos amorosos, de ter aspirado a fazer uma carreira literária como “a voz poética feminina de Portugal”, ou seja, uma vida fora dos cânones, marcaram-na como mulher e à sua poesia. Fosse em Vila Viçosa, em Évora ou no Redondo, no Algarve, em Lisboa ou em Matosinhos, locais onde viveu, transportou sempre consigo o peso das más-línguas: “bastarda”, “amantizada”, “adúltera”, “prostituta”, com ideias “malucas”a que os maridos se deviam opor. Os amores falhados que a levaram a divorciar-se e para o que desejava ser compreendida, nomeadamente pelo pai, encontravam uma parede de rejeição e de silêncio. “O meu drama resultava de ter nascido mulher, a minha medonha tragédia pessoal e os juízos morais a que estava sujeita deviam-se mais ao meu género do que ao meu comportamento.” (pág. 150)

O romance nomeia e espraia-se pelos amores de Bela. Desde logo o pai e Apeles, talvez o seu maior amor. O primeiro casamento com Alberto, um antigo colega da escola, um “matrimónio de resignação”, o casamento com António Guimarães “a história de um mergulho nas ondas esverdeadas de um mar traiçoeiro” e por fim o último casamento com Mário Lage, em que sempre se sentiu uma figura secundária. Nas palavras de Bela, “o meu terceiro marido veio a dar-me tantos desgostos quanto os outros.” Gorado que foi o amor com o terceiro marido, outras derradeiras experiências só serviram para aprofundar o desespero do amor inalcançável.

Um belíssimo livro de Ana Cristina Silva focado na personalidade de uma das grandes poetas portuguesas, cujo reconhecimento foi póstumo. Ana Cristina Silva domina de forma perfeita a análise de sentimentos e a caracterização das diversas personagens que fizeram parte da vida de Bela, usando um vocabulário rigoroso, rico e poético. A sociedade portuguesa do primeiro quartel do século XX estaria preparada para valorizar a poesia sofrida desta mulher nascida no Alentejo, que sonhava mais alto do que a charneca em flor? Creio que não. O peso do preconceito era arrasador.

DEIXAI ENTRAR A MORTE

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,

A que vem para mim, pra me levar,

Abri todas as portas par em par

Com asas a bater em revoada.

Que sou eu neste mundo? A deserdada,

A que prendeu nas mãos todo o luar,

A vida inteira, o sonho, a terra, o mar

E que, ao abri-las, não encontrou nada!

Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?

Entre agonias e em dores tamanhas

Pra que foi, dize lá, que me trouxeste

Dentro de ti?... Pra que eu tivesse sido

Somente o fruto amargo das entranhas

Dum lírio que em má hora foi nascido!...

in “Reliquiae”

21 de Janeiro de 2021 

Este ano não começou nada bem

26.01.21, Almerinda

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O Ano 2021 não começou nada bem Folheio os jornais da manhã à procura de notícias relacionadas com as escolas e o ensino. O “Público” tem mapas dos resultados eleitorais para todos os (des)gostos, mas dá destaque de primeira página ao mapa do candidato que ficou em terceiro lugar, embora lhe chame 2º!! Há também o mapa dos contágios, lembrando quem ainda andar distraído, que no nosso país o vírus e suas variantes estão em roda livre. Depois, a situação das escolas com a promessa de os 335 mil computadores em falta deverem chegar até ao fim de Março, para juntar aos 100 mil que chegaram no 1º período. Vários intervenientes do processo educativo são citados na notícia, mostrando a sua preocupação e os esforços para que o contacto se mantenha entre docentes e discentes, neste período em que as escolas estão fechadas até 5 de Fevereiro. “Escolas acompanham alunos, mesmo que o tempo seja de férias”, com propostas de leituras e exercícios de consolidação das matérias são algumas das “recomendações para que possam continuar a estudar”. No meio das preocupações com os desequilíbrios sociais e desigualdade de oportunidades que se agudizam em tempos de pandemia e no ensino não presencial, a referência a um relatório sobre o Estado da Educação 2019 que refere que são 366 mil os estudantes carenciados no ensino obrigatório. O “Diário de Notícias” que voltou recentemente às bancas em papel, nada traz sobre educação e o “I” dedica um artigo nas páginas centrais com o sugestivo título “Escolas. Ensino online à vista e “a fazer lembrar o Titanic”. Não posso deixar de assinalar neste último jornal um artigo de Maria Moreira Rato sobre o desemprego feminino. Antes da pandemia, em 2019, por cada 100 activos existiam 7,1% de mulheres desempregadas. Os resultados preliminares do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) indicam que as oportunidades de emprego para as mulheres que já tinham menos oportunidades antes da crise pandémica “diminuíram desproporcionalmente e têm um efeito a longo prazo potencialmente maior”. Gostaria de trazer aqui boas notícias, mas a realidade é esta e o futuro… (Este artigo foi a minha contribuição de hoje para o Notícia do Dia do SPGL)

Infectado, assintomático

12.01.21, Almerinda

Infectado, assintomático

Não há como fugir. A notícia do dia é mesmo a situação do presidente/candidato a Presidente da República que, num teste PCR realizado ontem à noite deu infectado com covid 19, embora assintomático. Tudo parou desde ontem à noite. Todas as notícias se viraram para este dado novo.

No segundo dia de campanha para as presidenciais, o candidato praticamente sem campanha, sem outdoors, sem tempos de antena, com um orçamento irrisório, o candidato presidente está confinado da zona residencial do Palácio de Belém. Chovem as perguntas, as suposições, as dúvidas. É possível não adiar a data das eleições? Estarão os outros candidatos também infectados? Há condições para fazer campanha? Não terá sido uma imprudência não ter começado pelos políticos a campanha de vacinação? Perguntas, perguntas e mais perguntas.

Num tempo carregado de incertezas, em que toda a gente lança palpites e se arroga de ser detentora de toda a verdade, é difícil assumir que planear e prever é fundamental, embora tenha de haver a humildade para nos colocarmos na nossa posição de que tudo pode mudar de um momento para o outro. Estamos, desde que esta pandemia começou em Março de 2020 a viver um dia de cada vez. Aliás, já antes estávamos, mas a evidência não era tão palpável. Claro que com isto não estou a desmerecer o papel primordial dos cientistas, dos matemáticos, dos políticos, mas a assumir o imprevisível e o peso do desconhecido face a um vírus novo que veio alterar radicalmente o nosso modo de vida.

Voltando às notícias que ontem à noite se impuseram e em que todos os candidatos e candidatas fizeram comentários e notas de votos de melhoras para o candidato infectado, o candidato de extrema-direita, populista camaleão apareceu em todos os canais, compungido, comunicando que iria suspender a sua campanha invocando o seu sentido de responsabilidade. Poderia ser cómica esta tirada, se não fosse efectivamente trágica. Os populistas nunca perdem uma oportunidade de aparecer e de fazer campanha. Só precisam que uma câmara e um microfone lhes sejam apontados.

Lá longe, no estertor da sua presidência e a jogar até dia 20 de Janeiro, Trump vai visitar a sua grande obra, o muro que separa os States do México, aquilo a que ele chama a sua promessa cumprida.

Até dia 24, dia das eleições presidenciais em Portugal, tudo pode acontecer, mas a imprevisibilidade e o desconhecido são a matéria de que são feitos os dias.

(Este artigo foi a minha contribuição de hoje no Notícia do Dia do SPGL)

Dia de Reis

06.01.21, Almerinda

Boas Festas_2020.jpgEste é o meu primeiro post deste novo ano.

Hoje - Dia dos Reis Magos - é também o dia de encerrar as festividades natalícias, mas de qualquer modo, os pequenos enfeites com a luz e o calor do Natal que costumamos tirar das caixas que guardamos na despensa e que voltamos a guardar até daqui a onze meses, cá em casa só serão guardados no fim de semana.

Desde que tenho consciência de mim, no ano há dois momentos que me deixam um nó na garganta quando terminam: o fim do Verão e o fim das festas de Natal. Certamente porque sempre foram momentos de felicidade que eu não queria que acabassem. Hoje, continuo a ter essa sensação de tristeza e de perda.

Hoje, recebi talvez o último postal de Boas Festas de 2020/2021 duma grande amiga/mana que dizia assim: "Acho que me inspiraste a recomeçar esta bela tradição de escrever postais nesta época. Temos de contrariar o digital, sobretudo nos tempos que vão correndo".

Foi de facto um prazer muito grande que senti quando enviei e recebi postais ou encomendas neste período e mesmo durante a pandemia. Abrir a caixa de correio e encontrar lá dentro uma mensagem de afecto, algo táctil, físico, sabe tão bem como abrir aquele embrulho lindo dentro do nosso sapatinho na noite de Natal. Ontem, reconciliei-me com os CTT quando soube que uma encomenda que tinha enviado no início de Dezembro e que pensava definitivamente perdida, chegara finalmente a bom porto. 

Boas Festas. Bom ano. Sejam felizes e aproveitem ao máximo o que a vida nos dá.