11 -12 -13
11-12-13
Ano 2020
11 de Março – acabaram-se os beijinhos. Portugal registava 60 pessoas infectadas com covid 19 e eu desmarcava tudo a partir dessa data. Segundo a OMS, tinha-se entrado em pandemia e a doença já tinha atingido 114 países. O funeral da Conceição foi o último acto público a que fui antes de me fechar em casa.
12 de Março – o 1º dia em que fico em casa.
13 de Março – Portugal entra em estado de alerta até dia 9 de Abril; já se registaram 112 pessoas infectadas. A viagem programada a Berlim no final do mês fica sem efeito.
Ano de 2022
11 de Março – Bilbau é o destino que escolhemos para gastar algum do dinheiro da viagem a Berlim que não se realizou. O peso da guerra que deflagrou na Ucrânia desde 24 de Fevereiro não nos deixam pingo de motivação, mas lá vamos bem cedo a caminho do aeroporto. A covid continua, mas a guerra é avassaladora e parece que a pandemia deixou de existir. Só as máscaras e os controlos sanitários no aeroporto de Bilbau nos ajudam a lembrar aquilo que a comunicação social esqueceu. Será que o fim-de-semana em Bilbau nos ajudará a esquecer o que se passa no leste do continente europeu?
Da cidade de que só conhecia o aeroporto muito pequeno, ficara-me a imagem fugidia e longínqua daquela vez em que tinha ido a Irun, para uma reunião da MMM há vários anos com a Isabel Bento. Na preparação para esta vez, tinha pesquisado o tempo e alguns locais com interesse para visitar.
O primeiro dia foi mesmo para sentir o pulsar da cidade. Calma, acolhedora, num vale, com uma arquitectura equilibrada e harmoniosa, percorrer as margens do rio Nervión e perceber que aquela é uma cidade com muitos cães, com muitas pessoas em cadeiras de rodas, com corredores para bicicletas e onde nunca vimos dejectos de animais, raramente pontas de cigarros e só num sítio duas ou três máscaras atiradas no chão! Tudo tão distinto das nossas cidades, tão agradável e respeitador. Mau mesmo, o rio muito poluído, de um verde acastanhado baço e triste. Era preciso experimentar os primeiros pintxos e o Mercado da Ribeira foi a melhor escolha, com um painel logo na entrada a celebrar grandes mulheres e certamente a lembrar que naquela como em muitas outras cidades do estado espanhol, o 8 de Março é mesmo para ser celebrado. Depois foram as 7 calles que são o osso da Cidade Velha. Andar a pé, desfrutar do piso plano, mas perceber que muitas escadarias e subidas seriam preciso escalar, se queríamos conhecer a cidade para além da zona do rio Nervión.
À noite, seguimos para o lado oposto ao que tínhamos feito de manhã, para ver o edifício Guggenheim e a famosa Ponte Zubizuri da autoria de Santiago Calatrava. Fiquei fascinada e rendida quando me aproximei do Puppy de Jeff Koons. As flores eram mesmo flores a sério e o cheiro era real. Claro que a aranha Maman de Louise Bourgeois se impõe também pelo tamanho, mas o cachorro florido é uma verdadeira beleza. A chuva que não estava prevista obrigou-nos a mais uma entrada num bar, para mais uma bebida e mais um pintxo! Mas da molha não nos livrámos!
12 de Março – a excelente impressão sobre o hotel – Barceló Bilbao Nervion – ficou confirmada com o duche e o pequeno-almoço. Tudo muito bom, mas agora era preciso atravessar a ponte de Calatrava e conhecer o Guggenheim lá por dentro, ver o Puppy e a Aranha, mas de dia. Era sábado e o movimento na rua não se comparava com a calma da cidade que tínhamos desfrutado no dia anterior. Mas antes, subimos no Funicular Artxanda para conhecer o parque com esse nome e observar a cidade de Bilbau do alto. Muita sorte com o tempo que estava agradável e com óptima visibilidade. Muita gente no parque, muitas crianças e muitas pessoas da minha idade, ou seja, gente que já não é nova. Em Portugal, cada vez se vêem menos carrinhos de bebé a serem empurrados por jovens casais, mas aqui não. Há muitas crianças na rua, muitas crianças a brincar nos parques, muitas crianças a brincar livremente enquanto os pais e mães confraternizam ruidosamente nos cafés, nas esplanadas, na Plaza Nueva, que visitámos à noite e que é um verdadeiro festival de convívio e de animação. E os velhos não ficam em casa. Também mantêm o gosto por sair, por ir beber um copo, por passear ao longo do rio, por aproveitar a vida palpitante da rua.
Foi um dia esplêndido e muito intenso. Pela primeira vez vi um Rothko ao vivo no Museu Guggenheim, para além de muitos pintores de que já tinha visto obras noutros museus, como Robert Delaunay, Fernand Léger, Matisse, Modigliani e outros. Mas Rothko foi mesmo uma estreia absoluta! No piso térreo do museu, uma impressionante obra em aço de Richard Serra intitulada The Matter of Time. O fim da tarde foi para andar de barco, partindo do cais mesmo em frente ao hotel, seguindo por debaixo da ponte Zubizuri, olhando para o fantástico edifício de Frank Gehry, o Monumento do Sagrado Coração, a Universidade, o Estádio de San Mamés e depois toda a zona industrial com muitos edifícios há muito sem préstimo, com fábricas encerradas, lembrando uma época passada como acontece em Portugal. Foi também nesta parte do percurso de barco que mais se viam bandeiras lilás nas janelas, muitas mesmo, lembrando-me as companheiras feministas bascas, galegas e catalãs que conheci ao longo da vida.
13 de Março – a manhã tinha mesmo de ser para conhecer o Parque de El Arenal famoso por ser o local de exposição e venda de flores, para além de velharias, livros, moedas, ou seja, o sonho dos coleccionadores e dos amantes de flores. Os dois grandes telheiros que víramos nos dias anteriores vazios, estavam agora ocupados por vendedores com os seus produtos. Mas faltava-nos o grande Parque Etxebarria e a famosa Basílica de Begoña. Por ignorância, acabámos por lá chegar pelo caminho mais difícil, que parte da Praça Miguel Unamuno. Uma escadaria sem fim, embora ao lado houvesse um caminho paralelo sem escadas, mas igualmente difícil. Mas, chegar ao parque e entrar a basílica valeram bem a pena. Foi neste parque que vi mais gente de idade a passear, muitos casais com crianças, muitas pessoas a passear os seus cães e sempre o cuidado de apanhar os cocós que os animais naturalmente precisam de fazer…
A despedida para o almoço, antes do regresso ao aeroporto, foi de novo no Mercado da Ribera. Foram três dias muito agradáveis numa cidade que me surpreendeu pela arquitectura, pelas pessoas, pelo ambiente amigável, pela acessibilidade para todas as pessoas, pela vitalidade e onde me senti muito bem. Em três dias pode-se fazer muito, ver muita coisa e aproveitar o mais possível, desde que se esteja disponível para tal.
Foi uma pausa de que já tinha saudades.